O crescente acesso de pessoas à rede mundial de computadores e o surgimento de vários gêneros digitais têm possibilitado a criação de uma maneira diferente de lidar com a escrita e suas normas gráficas. Este ensaio discute uma questão que vem ocupando grande espaço na mídia em geralA escola deve aproveitar a competência comunicativa dos adolescentes que usam bem os gêneros digitais disponíveis na rede virtual para transformá-los em bons produtores de gêneros textuais valorizados na sala de aula e no mundo real. Para ilustrar como isso pode ser feito na prática, sugiro que o professor de Língua Portuguesa peça que os alunos construam ou tragam um texto produzido em um gênero digital com todas as abreviações e reduções que lhes são peculiares e, depois, o "traduzam" ou o retextualizem. Assim, eles poderão perceber no processo de transformação as diferenças entre os gêneros textuais e a necessidade de grafar as palavras de uma certa maneira, considerando o contexto situacional da produção daquele texto agora retextualizado.A internet tem muito a contribuir na formação intelectual e lingüística dos seus usuários, pois tende a fazer deles vorazes leitores e autores de textos sejam verbais, visuais, sonoros ou hipertextuais, habilidades que a escola e suas milenares ferramentas pedagógicas têm conseguido com muita dificuldade.A prática da leitura se faz presente em nossas vidas desde o momento em que começamos a "compreender" o mundo à nossa volta. No constante desejo de decifrar e interpretar o sentido das coisas que nos cercam, de perceber o mundo sob diversas perspectivas, de relacionar a realidade ficcional com a que vivemos, no contato com um livro, enfim, em todos estes casos estamos, de certa forma, lendo - embora, muitas vezes, não nos demos conta.Toda atividade comunicativa do ser humano em linguagem verbal realiza-se por meio de textos e não de frases isoladas. E, para garantir que uma manifestação verbal seja realmente um texto, há certas características que devem ser respeitadas. É o que se convencionou chamar de textura ou textualidade? Conjunto de elementos que fazem de um texto um texto e não uma seqüência de frases meramente justapostas. Entre esses fatores está a coesão textual, que se relaciona com a unidade formal do texto, com a relação ou conexão entre elementos do texto. Ao se comprometer a coesão textual - elemento não por si só suficiente, mas extremamente necessário -, a textualidade fica prejudicada e, portanto, os limites entre texto e seqüência aleatória de frases podem não ficar bem definidos.Uma análise de produções textuais dos mais variados gêneros e fontes evidenciará que um dos grandes problemas que prejudicam a unidade formal do texto e, conseqüentemente, a coesão é a frase fragmentada, construção que não apresenta partes indispensáveis da oração ou do período. Em contrapartida, há autores consagrados que fazem da fragmentação um rico recurso estilístico e, portanto, intencional - para suas produções. A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as proposições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística, tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de imediato a coerência de um discurso. A competência linguística combina-se com a competência textual para possibilitar certas operações simples ou complexas da escrita literária ou não literária: um resumo, uma paráfrase, uma dissertação a partir de um tema dado, um comentário a um texto literário, etc. Coerência e coesão são fenómenos distintos porque podem ocorrer numa sequência coesiva de factos isolados que, combinados entre si, não têm condições para formar um texto. A coesão não é uma condição necessária e suficiente para constituir um texto. No exemplo:A Joana não estuda nesta Escola.Ela não sabe qual é a Escola mais antiga da cidade.Esta Escola tem um jardim.A Escola não tem laboratório de línguas.O termo lexical “Escola” é comum a todas as frases e o nome “Joana” está pronominalizado, contudo, tal não é suficiente para formar um texto, uma vez que não possuímos as relações de sentido que unificam a sequência, apesar da coesão individual das frases encadeadas (mas divorciadas semanticamente). Pode ocorrer um texto sem coesão interna, mas a sua textualidade não deixa de se manifestar ao nível da coerência.
Seja o seguinte exemplo:
Paulo estuda Inglês.
A Elisa vai todas as tardes trabalhar no Instituto.
A Sandra teve 16 valores no teste de Matemática.
Todos os meus filhos são estudiosos.
sexta-feira, 6 de junho de 2008
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2 comentários:
Estudar a língua portuguesa leva a contradições aparentes que na realidade são necessidades complementares, preservar o idioma na sua forma culta e conviver com a evolução da língua. Um parece ser muito tradicional, outro parece ser ultra radical, mas na verdade não se pode experimentar nada novo se não conhecemos os limites e nem estabeleceríamos limites se eles não fossem ferramenta para catapultar o novo. Língua portuguesa é isso:norma culta ou vulgar dá tudo no mesmo lugar.
Comentário do Grupo Força( Andreia)
O blog está ótimo!!
Li e comentei todos os trabalhos.
Foi uma forma de contribuição e reconhecimento a todos como também, um exercício para reforçar a minha construção sobre a LP.
Muito boa , as observações do grupo. A coesão precisa expor de forma ordenada as idéias, uma de cada vez, enquanto a coerência é a ligação perfeitamente inteligível das partes de um texto com o seu todo.
Parabéns!!
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